O DNA mitocondrial, apesar de pouco diverso, é abundante: existem
centenas de mitocôndrias dentro de nossas células, já o DNA nuclear contém
muitos cromossomos diferentes, mas resume-se à região do núcleo. Como temos
mais cópias de DNA mitocondrial nas nossas células, fica mais fácil encontrá-lo
em bom estado num material fossilizado. O
DNA mitocondrial se mantém íntegro, pois não se recombina na reprodução sexual
enquanto o DNA nuclear se dilui e se reagrupa.
O DNA mitocondrial é transmitido às gerações seguintes pela chamada
herança citoplasmática, exclusiva das mulheres, formando assim, uma
matrilinhagem. Ele favorece a investigação da evolução da espécie, pois sua
integridade genética é totalmente mantida, a não ser pelas mutações. Sua taxa
de mutação é várias vezes mais rápida em relação ao DNA nuclear, dessa forma,
se assumirmos que a taxa de mutação é relativamente constante, podemos utilizar
esse número de mutações do DNA mitocondrial como um relógio biológico. O mesmo
não poderia ser feito com o DNA nuclear, pois, além de ocorrerem a uma taxa
menor, os polimorfismos(mutações), seriam muito mais difíceis de interpretar em
decorrência do processo de recombinação gênica e do fluxo de genes mais ou
menos intenso em diferentes populações, fruto de movimentos migratórios.
É por meio do estudo do polimorfismo do DNA mitocondrial que se
estabelece o grau de parentesco nas populações atuais e, por consequência, a
antiguidade relativa de cada ramo populacional. A busca de polimorfismos é
feita com enzimas de restrição, que cortam o DNA em sequencias específicas (com
quatro a seis bases). O melhor exemplo de reconstrução da evolução a partir do
DNA mitocondrial foi feito em 1987 na Universidade da Califórnia. Com base no
estudo do DNA mitocondrial de 147 indivíduos de várias origens geográficas, foi
elaborada uma árvore filogenética que apontou apenas um ancestral comum: o DNA
mitocondrial de uma mulher africana que viveu há cerca de 200 mil anos, chamada
de Eva Mitocondrial pela imprensa. A
análise do material mitocondrial de populações atuais revelou que durante quase
100 mil anos o homem ficou disperso em pequenas comunidades pelo continente
africano, com pouquíssimo fluxo gênico proporcionado por migrações. Esses
grupos chegaram à beira da extinção em virtude de secas desastrosas.
Muitas potenciais falhas nessa teoria têm sido extensivamente
debatidas. Os 200.000 anos estimados ao ancestral comum poderiam ser um erro
significante se fosse assumido que a taxa de mutação para o DNAmt estivesse
errada. O DNA mitocondrial possui uma taxa de mutação mais alta do que o DNA
nuclear, porque a mitocôndria não possui o mecanismo de reparo extensivo do
DNA, presente no núcleo da célula. Mesmo assim a taxa de mutação não pode estar
errada por mais de um ou dois fatores.. Alguns antropólogos se incomodam com o
fato das gravações fósseis da evolução do homem não se igualarem a este curto
espaço de tempo sugerido pelas gravações do DNA. Mesmo assim, muita discussão e
os novos dados dos últimos anos sugerem que o modelo está basicamente correto.
A análise de DNAmt para o estudo da evolução em muitas espécies está sendo
genericamente aceita. A tecnologia do DNA recombinante se tornou uma ferramenta
aceita e altamente quantitativa para os estudos em antropologia, evolução e
ecologia.
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